domingo, 24 de abril de 2016

IMAGENS PROIBIDAS PELA LEI DE SEGURANÇA

UM REGISTRO FOTOGRÁFICO DA MISÉRIA HUMANA FOI PROIBIDO
EM TEMPOS CINZENTOS POUCA COISA PODERIA SER REGISTRADA
Estávamos em meados dos anos setenta, em pleno governo militar que adotava a Lei de Segurança Nacional-LSN para controlar e punir aqueles que eram considerados inimigos do Estado. A LSN era extremamente punitiva e controlava todos os setores, principalmente o jornalismo impresso, que era considerado um inimigo do Estado que precisava ser monitorado. Havia controle rígido com censura nas redações, geralmente feita por militares ou policiais para examinar o que poderia ou não ser publicado. Eu trabalhava no jornal O Globo e havia sido designado para uma cobertura jornalística do treino de futebol do Vasco da Gama em São Januário. Saí do jornal acompanhado somente pelo motorista quando presenciei uma cena inusitada, um grupo de moradores de rua estava reunido em frente à igreja de Santana na rua de mesmo nome. Horário 8,30h da manhã. Ônibus e passantes olhavam e tinham reações diversas, ora de espanto, ora de deboche pelas cenas pouco usuais. Efetuei vários disparos,  talvez uns trinta ou mais, separei o filme e fui para São Cristóvão cumprir minha tarefa, fotografar o treinamento do "Gigante da Colina". 
 
Retornei em torno de 11h liberei o motorista e resolvi ver mais um pouco do que acontecia no acampamento dos mendigos. O cenário mudou, das cenas de discussão e violência passaram a cenas de afeto e mesmo de sexo explícito, registrei as cenas com rapidez, temia reação dos participantes, embora estivesse a uma distancia de uns 20 metros para evitar qualquer reação e não ter nenhuma participação nas situações sociais que se estendiam há várias horas, já era quase meio dia e as cenas mais variadas aconteciam, afinal por não ter nenhuma habitação, a casa deles era a rua, e afinal eles estariam abençoados pelo cardeal Don Sebastião Leme que em estátua e em espírito a tudo assistia. Eles estavam ao pé da estátua de um cardeal.
 
A sequência fotográfica foi copiada no laboratório fotográfico de O Globo e foi um sucesso (aparente) as pessoas se dividiam entre as gargalhadas da situação e a tristeza e foi parar na diretoria, isto é Dr Roberto Marinho e seu irmão Rogério, que mostraram aos outros diretores e assessores que acharam divertido pelo final da sequência e mandaram arquivar, que não fosse publicada em momento algum. Passaram-se alguns meses e levei aos fotos para o editor de O Repórter Luiz Alberto Bittencourt O Luizinho que achou genial e publicou com texto poético de meu querido Tim Lopes.
 
NA POLICIA FEDERAL INCURSO NA LSN
No dia 12/07/1978 fui intimado a comparecer na Superintendência Regional da Policia Federal incurso em artigo da LSN em um hipotético incitamento à subversão para prestar esclarecimentos sobre fotografias que haviam sido publicadas em O Repórter jornal alternativo que  publicou a sequência dos mendigos com belo texto do inolvidável Tim Lopes que ficou maravilhado com as imagens. Também tive de dar explicações sobre reportagem fotográfica sobre a Zona De Prostituição do Mangue também com texto do Tim em cima de minhas imagens, e de uma simples foto de uma jovem carnavalesca no camarote do governador Faria Lima. A jovem estava com um biquíni de carnaval o que na época, e por estar em camarote de uma autoridade não deveria ser registrada nem muito menos publicada. Fui para a Federal bem cedo às 08 da manhã, fiquei confinado em uma sala sem saber o que fazer.Outros colegas da redação do Repórter como Aguinaldo Silva, Telmo Vambier e outros que não me recordo também foram depor. Meu depoimento foi lá pelas cinco da tarde, acompanhado por advogado que ficou ao meu lado enquanto respondia ao delegado federal, a quem eu já havia fotografado em um problema interno sobre passaportes, em reportagem para O Globo.
 
 No longo depoimento respondi que estava a mais de 20 metros de distancia e apenas fiz o registro com objetiva de 135mm (pequena teleobjetiva) embora o delegado inquisidor insistisse que eu tivesse induzido os participantes principalmente em relação às cenas de sexo. Não satisfeito com os esclarecimentos ele afirmou que eu deveria ter impedido as cenas diversas. Respondi ao delegado que exerci minha função, estava à mesma distancia de uma delegacia, a Sexta Delegacia Policial que estava a uns 20m e que a função de reprimir ou permitir as cenas inusitadas seria deles a função. O delegado encerrou o depoimento, embora à contragosto.
 
Tenho usado as imagens, ás vezes na sequência integral, às vezes em apenas uma ou duas fotos de violência em exposições fotográficas ou em aulas ou palestras sobre Fotojornalismo. As cenas mais fortes só são usadas para encerrar a sequência de imagens para contar uma história feita entre ás 8,30h e ás 12h. Creio ter cumprido plenamente minha função de registrar a vida, as situações sociais que ocorrem na bela e às vezes aterrorizante cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Cidade que às vezes é maravilhosa como diz o hino da cidade, às vezes é o paraíso do inferno e do caos como diria  um outro poeta. 
 
A vida para todos nós às vezes é um inferno, às vezes um paraíso, e  nós repórteres fotográficos devemos e temos obrigação de sempre que possível de fazer um registro que pode definir a época em que elas foram efetuadas.
 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

CÂMARA DE VEREADORES FAZ HOMENAGEM AOS 70 ANOS DA ARFOC

 ARFOC INAUGURA EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA NA CÂMARA DE VEREADORES
 A exposição fotográfica "A Fotografia Como Documento Social" foi inaugurada segunda dia 04 de abril no Saguão José do Patrocínio da  Câmara de Vereadores do Município do Rio de Janeiro em comemoração aos setenta anos da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro. Fundada em 1946 tem como objetivos defender, incentivar, valorizar e aperfeiçoar o Fotojornalismo e o Cinefotojornalismo como profissão. A mostra fotográfica vem prestar uma homenagem aos profissionais da imagem que diuturnamente cumprem a nobre tarefa de informar, superando todas as dificuldades, mesmo com o sacrifício da própria vida.
fotos Everaldo d'Alverga